Pedala, Soares! |
SHOW Atleta viveu auge no brasileiro de 1972; arrasou e humilhou todos os marcadores Seu nome está entre os tantos que brilharam entre o fim da ‘‘Era JL’’ e o início da ‘‘Era Castelão-Machadão’’ no futebol potiguar. Era uma vez um certo Soares, que não era técnico nem humorista - mas fez muito ABCdista sorrir no comecinho da década de 1970, como ponta-esquerda. O que Robinho (aquele mesmo, do Santos, hoje no futebol espanhol) fez um dia desses no Santos - as ‘‘pedaladas’’ e outras diabruras de assustar qualquer zagueiro, negócio para além do futebol, quase uma arte, Soares já fazia muito antes de Robinho existir... Na identidade consta Antônio Soares de Albuquerque, nascido em Recife (PE) a 11 de abril de 1951. ‘‘Vim para Natal com 19 anos, mas antes tive uma boa história no futebol amador em Recife’’, principia. ‘‘Comecei no Náutico, aos 12 anos. Entrei lá depois que foi realizado uma espécie de campeonato aberto, onde ao final o Náutico fez uma ‘peneira’, escolhendo os melhores da competição’’. Foi aí que o ABC entrou em sua vida. Era o ano de 1970. ‘‘Vim ao ABC através de Prudêncio (José Prudêncio Sobrinho). Prudêncio, ‘meu pai’... A grande virtude de Prudêncio é que ele ia observar (os atletas), ele ia assistir treino - sem se identificar! O técnico pedia algo, ele ia verificar, e depois é que ia acertar alguma coisa com os atletas. Muito diferente do que acontece hoje...’’ Porém, Soares chegou a Natal com o Campeonato Estadual pegando fogo. ‘‘Cheguei do meio da competição para o fim, não tive condição de jogo. Vi o ABC campeão’’. Só estreou mesmo pelo alvinegro depois do Estadual... em ABC x Botafogo-PB, jogo da ‘‘entrega das faixas’’ de campeão. E estreou fazendo gol! Pronto, o caminho estava aberto para Soares atuar efetivamente pelo ‘‘Mais Querido’’ no ano seguinte. Só que, chegado o ano de 1971, mexeu com o que não devia - o jovem rapaz andou ‘‘bulindo’’ com uma moça, a honra entrou em jogo e o tempo fechou (com alguns ingredientes dignos de novela rocambolesca, ou até de uma quadrilha junina). E agora? ‘‘Fugi para o Náutico, lá eu disse que o ABC tinha me dado férias! E o pessoal do ABC me procurando: eu tinha dito que iria para a praia, e não voltei mais...’’ Foram três meses de sumiço, até que o rapazinho foi localizado por Prudêncio, que o ‘‘resgatou’’ de avião. E o futebol, como ficou? ‘‘O ABC foi bi em 1971. Em um jogo eu era titular, em outro era reserva, e em outro ainda ficava nas arquibancadas mesmo...’’. Quando viu, já estava em 1972. O ano reservaria grandes mudanças, não apenas para Soares mas para o futebol local. Primeiro, o atleta - ‘‘O técnico do ABC era Célio de Souza. Ele acreditou em mim, e o que fez comigo na parte psicológica... acho que é o que falta no ABC, hoje. Para mim, no ABC hoje só falta um pouco mais de cabeça’’. Atuou no Estadual - o alvinegro abocanhou o tri. E a partir daqui, mudanças no futebol local: do JL, os clubes passaram a atuar no Estádio Castelão (hoje Machadão) estalando de novo - e o ABC participou do então Campeonato Nacional (hoje Brasileiro Série A). ‘‘Jogamos contra as melhores equipes do país. Em todos os jogos que participei, onde não fui o melhor em campo, fui quase... ganhei muito relógio e rádio de pilha!’’ Cobiçado Tanto aprontou em campo que acabou se tornando objeto de cobiça de grandes clubes do país. ‘‘Era o Vasco, o Bahia, o Corinthians... e aí começou um, por assim dizer, leilão. Supervisores de times grandes entravam direto no vestiário do ABC logo após o jogo, eu ainda estava no banho!, e as propostas eram feitas ali, na minha frente... eu ficava até constrangido, sei lá, me sentia meio como um cavalo de raça ou um (bode) pai-de-chiqueiro...’’ Não houve clube que não apresentasse proposta naquele ano de 1972. Ao fim do Campeonato Nacional, o ABC aguardou algum clube se manifestar para valer. Nada. Já iniciava o ano de 1973. ‘‘Aí ‘Seu’ Agnelo Alves (à época conselheiro do ABC e do Botafogo-RJ; hoje prefeito em Parnamirim) chegou e disse ‘Você não vai para coisa alguma, vai sim é para o meu Botafogo!’ ’’. Movido pela paixão Pronto, lá foi Soares para o Rio de Janeiro. Mas não era bem para o Botafogo que queria ir... ‘‘Foi meu erro. Se eu tivesse ido para o Vasco, ou talvez para o Corinthians, com as condições que eu tinha, estaria na Seleção Brasileira na certa’’, calcula. Para ele foi tudo uma grande novidade - pela primeira vez andou de carro importado (dos dirigentes do Botafogo, que foram recebê-lo no aeroporto); e conheceu uma dependência tão decente do clube - com duas camas, ar condicionado e frigobar, ao lado do campo - que preferia ficar ali do que num hotel... não fosse aquela sala justamente a enfermaria! Deveria ter ficado uns cinco meses no Rio - mas voltou ao ABC depois de apenas três meses. ‘‘Forcei a barra para voltar a Natal. Até telefonava a Aluízio Bezerra dizendo ‘Quero sair daqui, estão me maltratando!’...’’. Tudo por um paixão - ‘‘Tinha uma namorada no ABC. Quando fui para o Botafogo levei uma foto dela comigo. Vim a Natal duas vezes de avião por conta própria, só para vê-la’’. Tanto aprontou que conseguiu. ‘‘Quinze dias depois que voltei a Natal me casei com ela (‘‘Dona’’ Albani). Ficamos 24 anos casados’’. Andarilho Voltou ao ABC a tempo de ver o time tetracampeão. ‘‘Pena que ficamos fora do Campeoanto Nacional. Aí teve aquela excursão...’’ - a famosa Excursão Internacional, onde os atletas do Mais Querido passaram por três continentes. ‘‘Aquela viagem me deu um conhecimento de geografia incrível, e um desejo de aprnder inglês que tenho até hoje’’. Depois da excursão praticamente todo mundo foi emprestado. Soares foi parar no Fortaleza-CE - ‘‘Fui para lá, deixei Albani aqui grávida! Você vai achar que isso era uma irresponsabilidade. Mas é que naquele tempo eu era imediatista: quando queria, queria para agora!’’, se explica. Estreou jogando contra o Guarani, mas logo depois veria seu mundo virar de ponta-cabeça - ‘‘Não joguei mal. Mas dois dias depois veio um telegrama de Natal: era minha sogra avisando que Gustavo (o filho mais velho) tinha nascido. Na véspera do jogo seguinte fui para a rodoviária, mas não havia ônibus, aí fui para o aeroporto, como havia feito no Rio de Janeiro. Cheguei aqui de madrugada. Fui vê-la. Olhei e comecei a pensar - ‘Agora tenho ela e o menino...’ ’’ E veio 1974. O ABC perdeu o que seria o pentacampeoanto. ‘‘‘Briguei’ - no bom sentido, longe de mim uma briga de verdade - com Prudêncio para obter meu passe. Comecei a andar pelos clubes’’. Passou dois anos e meio no Treze-PB, e em 1977 foi para o Botafogo-PB. Não ficou muito tempo, em virtude de uma mudança de técnico - ‘‘O ataque era Libânio, eu e Jorge Demolidor, aí apareceu um técnico de São Paulo, acho que o nome dele era Fito, e trouxe uma leva de jogadores ‘velhos’. Um deles se chamava Pial. Mal falavam comigo!’’ - com o passar dos treinos, sentiu que a idéia do técnico era colocar Pial em seu lugar, o que estava virando motivo de piada para os atletas que já estavam no clube em virtude das condições físicas do, digsmos, substituto. Anteviu a ‘‘rasteira’’ - expressão que parece gostar de voltar à moda vez em quando... - e achou melhor sair do Treze. ‘‘Resolvi mudar de profissão’’. " Jogamos contra as melhores equipes do país....ganhei muito relógio e radinho como melhor em campo" Soares - Ex-jogador do ABC Passou um ano criando galetos De todo jeito, parou com o futebol. Foi para São Paulo, onde trabalhou por dois anos e meio na Nossa Caixa. "Depois eu voltei para cá, para uma granja de minha sogra em Felipe Camarão. Você não vai acreditar, mas é verdade: fui criar galetos! Passei um ano cm os galetos..." Quando viu, estava no Alecrim. "Era curioso, todo dia, próximo ao meio-dia, passava por ali um cara de capacete e moto acenando com a mão. Um dia pedi que ele parasse. Era Nilson Backenbauer, na época jogador do Alecrim. Ele me disse "Você tem que voltar, e voltar pelo Alecrim" e eu respondi "Mas não tenho tempo..." O resultado disso é que joguei uns 8 ou 9 meses pelo Alecrim!" Depois da - digamos - pausa no Alecrim, Soares passou pela Sparta e, em 1982, pela Varig, onde trabalhou até 1994. "Hoje estou trabalhando para Deus, esperando uma oportunidade". Quem se habilita? E a família? Com Albani, Soares teve três fihos- Gustavo ("32 anos, está na Aeronáutica"), Daniele ("Está com 26") e David ("23 anos, trabalha no SeaWay") - que lhe renderam os netos Douglas, Deise e Vítor (filhos de Gustavo), Bárbara e Priscila (filhas de Daniele), além de Pedro (filho d David). Desde 1998, está casado de novo - agora com Cleoneide, com quem está até hoje. "Mais conhecida como Neide. E aí veio Toinho (Antonio Soares, hoje com 6 anos). BATE-BOLA O POTI - Você não disputou o Estadual de 1970. Mas que história foi essa de estrear no jogo das Faixas? Soares - Foi! O Botafogo-PB foi convidado para o jogo da entrega das faixas de campeão ao ABC. Aí entrei em campo. Deu ABC, 1 a zero, gol meu! O POTI - Consta que quando Prudêncio foi lhe buscar da "fuga para Recife" ele disse algo profético.... Soares - Ele me disse bem assim - " Vou levar você de avião, para nunca mais voltar!". E ele tinha uma boca! Dito e feito, não vou lá há 35 anos! O POTI - Qual foi seu jogo mais importante? Soares - Sem dúvida, ABC x Vasco. Terminou 2 a 1 para o Vasco - Tostão e Roberto Dinamite para o Vasco, e achou que Petinha para o ABC. Esse jogo me projetou para todo o país. Foi nesse jogo que teve aquele negócio com o Fidélis.. O POTI - ..a sequência de dribles que deixou o homem sentado, o Touro Sentado, literalmente? Soares - Exatamente. Dei tantos dribles nele que ele pediu para ser substituído""" E depois dojogo, ele foi para o vestiário do ABC, dizendo que eu tinha que ir para o Vasco, ele não queria me ver como adversário. |
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
SOARES
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário